Sabia que existem palavras que fazem
mais por si e pela sua relação
com os outros do que os seus gestos? São expressões de delicadeza e
empatia que a tornarão uma pessoa mais amada.
Diz a sabedoria popular que um gesto vale por mil palavras.
Certamente. Mas isto apenas vale se o gesto corresponder a uma verdade
interior e não for mera encenação. Convencionou-se que as palavras não
contam, que são superficiais e enganadoras. Mas é mentira. As palavras
são o mais importante veículo de comunicação, de troca entre humanos,
e podem marcar tão profunda e duradouramente uma relação como um
gesto.
Há palavras que são brutas como um soco na cara, mesmo se ditas com
simpatia. Porém, há outras que abrem portas na nossa relação com os
outros. Há palavras que são pontes. Fazem com que os outros fiquem
mais próximos, criam cumplicidades em vez de inimizades. Sobretudo
criam à nossa volta uma harmonia que só nos pode trazer felicidade.
Aquilo que damos aos outros é-nos restituído sob a forma de felicidade
e bem-estar. E isto não vale só para as relações amorosas. Vale para
todas as relações que estabelecemos em sociedade.
Podem dizer-lhe que a sua aparência conta, que a sua cultura literária
conta, que a sua educação conta. Mas de que adianta tudo isto se, num
mundo construído sobre interações sociais, você se comporta de forma
grosseira, não sabe veicular afetos profundos, não sabe ouvir os
outros?
Como tudo na vida a gentileza, a empatia, a solidariedade também se
aprende. Reunimos 12 palavras e expressões que farão de si uma pessoa,
se não mais amada, pelo menos muito mais gostável.
1. “Fico feliz por te ver”.
Nós, os portugueses, oscilamos entre relações de extrema formalidade,
onde não se veiculam simpatias e gentilezas (isso será logo
considerado “dar graxa”) e relações de extrema informalidade onde se
usa o “tu” e se acredita que isso significa “ter intimidade” com os
outros. Errado. O ideal é perceber que a intimidade não se faz pelo
uso do “tu” mas pelo uso do tempo. Por isso nunca se iniba de ser
gentil, de elogiar, de expressar um afeto mais profundo. Se encontra
alguém de quem gosta, não se fique por um inócuo “olá”. Vá mais longe:
diga “fico feliz por te ver” ou “fico sempre feliz por te ver”. Com
esta expressão está a comunicar que a presença da outra pessoa não lhe
é indiferente, que gosta dessa presença, que essa pessoa lhe evoca
sentimentos de felicidade.
2. “Lembro-me que tu…”.
Ao evocar uma situação, um gesto, uma atitude positiva dos outros
acontecida no passado (pode ser uma piada divertida, uma peça de
vestuário, um pequeno ato de heroísmo do quotidiano) está a comunicar
ao outro que se lembra dele, e está a reafirmar a capacidade dele ou
dela de terem em si coisas positivas que merecem ser notadas. É
provável que a outra pessoa vá também lembrar-se de qualquer coisa
positiva a seu respeito que não tinha notado. Talvez até se surpreenda
com algo que marcou os outros sem saber. Este “lembro-me que tu” ou
“talvez não tenhas notado mas” deve ser sempre seguido de uma coisa
positiva e não negativa. As pessoas que insistem em evocar coisas
negativas, pequenos incidentes ou fragilidades nossas, querem apenas
reforçar as nossas inseguranças e são para evitar.
3. “Estou impressionado!”
Esta expressão foca-se naquilo que a pessoa faz, ou acabou de fazer, e
não no que fez. É uma expressão que visa reforçar a auto-estima do
outro e deve ser usada com pessoas que acabaram de chegar a um novo
local de trabalho, jovens estagiários, pessoas que parecem estar
deslocadas ou isoladas dentro de um grupo. Muitas vezes essas pessoas
estão aflitas, envergonhadas, inseguras. Ser a mão amiga que se lhe
estende, com um elogio, uma chamada de atenção positiva, vai fazer de
si um super-herói quotidiano, sem precisar de outros superpoderes que
não a gentileza.
4. “Eu acredito em ti”.
Todos nós temos inseguranças. E no ambiente altamente competitivo em
que vivemos ou nas relações instáveis que mantemos com os outros as
nossas inseguranças podem tornar-se numa dor crónica. A melhor forma
de se ajudar é acreditando genuinamente nos outros, na força que cada
um tem para superar os obstáculos. Por isso dizer “eu acredito em ti”
pode ser fundamental para uma criança ou um adolescente ultrapassarem
um bloqueio na sala de aula, na família ou com os amigos. Mas é
igualmente oportuno usá-lo com adultos. Quem tem cargos de chefia,
quem está a lidar com um colega de trabalho menos ágil, quem está
perante um amigo ou amiga que perdeu o emprego, ou o namorado, pode
reforçar a autoestima dos outros com estas quatro palavras. Este
acreditar expressa uma confiança nas potencialidades do outro, vê as
suas forças e destrezas até onde ele não consegue ver. Acreditar
verdadeiramente nos outros pode ser o primeiro passo para acreditar em
si mesmo.
5. “Olha só até onde já conseguiste chegar”.
Esta expressão vem na linha da anterior, mas visa obrigar a outra
pessoa a rever o seu percurso, ao mesmo tempo que demonstra que está
atento a ela. Que registou os seus esforços, os seus sucessos, as suas
conquistas. Dizer “olha só até onde já conseguiste chegar!” é, ao
mesmo tempo, uma celebração do sucesso alheio. E isto é muito difícil
(por isso a inveja é um pecado que mora ao lado) e, por isso, tantas
vezes somos lestos a apontar as falhas mas nunca apontamos o êxito dos
outros.
6. “Gostava de saber o que pensas sobre…”.
Já reparou que, por estes dias, ninguém ouve ninguém? As pessoas fazem
perguntas por mera cortesia social e antes que você esboce uma
resposta elas já estão a falar de outra coisa. Em geral já estão a
falar de si mesmas. Dizer a alguém “gostava de saber o que pensas
sobre…” ou “gostava de ouvir a tua opinião sobre…” é uma forma de
comunicar ao outro que o considera inteligente, idóneo para se
pronunciar sobre um assunto qualquer (seja uma decisão de vida, seja
um mexerico). O importante é que esta frase acolhe o outro na sua
vida, ou no grupo de trabalho, ou numa decisão familiar. Mas seja
sincero quanto ao seu desejo de ouvir o outro. Se o fizer por
obrigação social isso vai notar-se e vai apenas mostrar o quão
autocentrado você é.
7. “Diz-me mais”.
Vamos clarificar uma coisa: esta frase não é apenas para ser usada
para engatar miúdas (e miúdos). Querer saber mais sobre a outra pessoa
que se senta ao nosso lado na faculdade, no trabalho, ou à mesa do
jantar é o mínimo que podemos fazer para estabelecer ligações sólidas
e duradouras. Mais uma vez é uma forma de aceder à vida, ao
pensamento, aos sentimentos do outro. “Diz-me mais”, ou “diz-me mais
coisas sobre ti, sobre o que pensas de…”, é também um cumprimento, um
elogio, é uma forma de comunicar que o outro diz coisas inteligentes,
pertinentes, singulares. Isto é particularmente válido com as
crianças: ao mesmo tempo que as integra no grupo familiar ou escolar,
dá-se-lhes a tarefa de as obrigar a pensar, a usar recursos do seu
mundo interior que ainda estão a aprender a gerir.
8. “Bem-vindo”.
Há quem compre tapetes de porta com a expressão inglesa welcome, mas
que seja completamente incapaz de lidar com a expressão portuguesa:
“seja bem-vindo”. Para além das confusões com a ortografia da palavra
(tantas vezes escrita como substantivo, “benvindo”), há um certo medo
de parecermos pomposos ou teatrais. Por isso acabamos por cair no
vulgar e adolescente “olá, tudo bem?”. . Dizer a alguém que ele/ela é
“bem-vindo”, seja na nossa mesa de café, na nossa casa, na nossa
empresa ou na nossa vida é uma forma de dignificar a pessoa que
recebemos e de lhe mostrar que estamos felizes com a sua chegada.
9. “Posso ajudar?”
No país que ensina as crianças a rirem quando veem alguém cair, que
fez da humilhação alheia forma tradicional de celebração académica a
expressão “posso ajudar?” pode parecer um óvni na nossa vida social.
Mas ela existe e faz maravilhas. Todos nós já experimentámos a
sensação de, no meio de uma aflição, alguém nos oferecer ajuda sem
querer nada em troca. Seja porque deixámos cair as compras no chão do
supermercado, porque caímos na rua, porque simplesmente não sabemos o
que fazer numa determinada situação. “Posso ajudar?” é uma
demonstração de empatia com a insegurança momentânea de alguém e é, ao
mesmo tempo, uma confissão averbal de que também nós, por vezes, somos
desastrados, inseguros.
10. “Desculpa!”
Eis outra expressão da qual se abusa mas que raramente se usa: ou seja
diz-se “desculpa” por qualquer coisa. Há mesmo quem comece frases com
a palavra “desculpa” como se tivesse medo de existir, mas raramente a
usa como demonstração de um genuíno arrependimento. Porque à palavra
“desculpa” tem que corresponder uma consequência que é a nossa mudança
de atitude. Pedir desculpa é colocarmo-nos nas mãos de alguém, é saber
que seremos julgados mas que acreditamos poder ser absolvidos. Dizer
“desculpa!” é ainda uma forma de acreditar que o outro confia em nós,
na nossa capacidade de sermos melhores. Portanto, como dizem os
ingleses “say it just when you mean it!“.
11. “Não”.
Com três letrinhas apenas… pois é, esta palavra pode parecer destoar
do tom deste artigo, mas ela é fundamental para a nossa sobrevivência
social. O “Não” não deve ser pensado como sinónimo de humilhação dos
outros, mas como sinal de que “nós merecemos respeito”. Naturalmente
há quem saiba usar todas as expressões acima apenas para manipular os
outros, para conseguir alguma coisa do seu interesse. Por isso,
aqueles que têm a empatia, a gentileza, a humanidade de dizer todas
estas frases têm também que estar aptos a dizer “não” àqueles que não
as têm com os outros. Querer fazer o bem não pode deixar-nos à mercê
da maldade. Porque ela existe, não obstante as declarações bem
intencionadas de Rosseau.
12. “Obrigado/a”.
Antes de tudo, é importante esclarecer uma questão com a qual os
portugueses e as portuguesas continuam a não atinar: as mulheres dizem
obrigada (feminino) e os homens dizem obrigado (masculino). Posto
isto, a palavra “Obrigado/a” é uma das mais importantes de uma língua.
É o selo de uma troca na qual ambos os lados deram algo. Na verdade,
todas as expressões de que falámos anteriormente podiam resumir-se à
palavra “Obrigado”. Ela é uma bomba de sentimentos positivos, de
empatia, de assunção da nossa fragilidade, das nossas falhas e, ainda
assim, da aceitação e da generosidade do outro que nos recebe. Deve
usar-se sem parcimónia, desde o empregado do café que nos prepara o
galão, até alguém que segura a porta para passarmos. Agradecer a
gentileza reforça no outro a vontade de ser gentil. (Já agora,
obrigada por lerem e ajudarem a partilhar este artigo).
com os outros do que os seus gestos? São expressões de delicadeza e
empatia que a tornarão uma pessoa mais amada.
Diz a sabedoria popular que um gesto vale por mil palavras.
Certamente. Mas isto apenas vale se o gesto corresponder a uma verdade
interior e não for mera encenação. Convencionou-se que as palavras não
contam, que são superficiais e enganadoras. Mas é mentira. As palavras
são o mais importante veículo de comunicação, de troca entre humanos,
e podem marcar tão profunda e duradouramente uma relação como um
gesto.
Há palavras que são brutas como um soco na cara, mesmo se ditas com
simpatia. Porém, há outras que abrem portas na nossa relação com os
outros. Há palavras que são pontes. Fazem com que os outros fiquem
mais próximos, criam cumplicidades em vez de inimizades. Sobretudo
criam à nossa volta uma harmonia que só nos pode trazer felicidade.
Aquilo que damos aos outros é-nos restituído sob a forma de felicidade
e bem-estar. E isto não vale só para as relações amorosas. Vale para
todas as relações que estabelecemos em sociedade.
Podem dizer-lhe que a sua aparência conta, que a sua cultura literária
conta, que a sua educação conta. Mas de que adianta tudo isto se, num
mundo construído sobre interações sociais, você se comporta de forma
grosseira, não sabe veicular afetos profundos, não sabe ouvir os
outros?
Como tudo na vida a gentileza, a empatia, a solidariedade também se
aprende. Reunimos 12 palavras e expressões que farão de si uma pessoa,
se não mais amada, pelo menos muito mais gostável.
1. “Fico feliz por te ver”.
Nós, os portugueses, oscilamos entre relações de extrema formalidade,
onde não se veiculam simpatias e gentilezas (isso será logo
considerado “dar graxa”) e relações de extrema informalidade onde se
usa o “tu” e se acredita que isso significa “ter intimidade” com os
outros. Errado. O ideal é perceber que a intimidade não se faz pelo
uso do “tu” mas pelo uso do tempo. Por isso nunca se iniba de ser
gentil, de elogiar, de expressar um afeto mais profundo. Se encontra
alguém de quem gosta, não se fique por um inócuo “olá”. Vá mais longe:
diga “fico feliz por te ver” ou “fico sempre feliz por te ver”. Com
esta expressão está a comunicar que a presença da outra pessoa não lhe
é indiferente, que gosta dessa presença, que essa pessoa lhe evoca
sentimentos de felicidade.
2. “Lembro-me que tu…”.
Ao evocar uma situação, um gesto, uma atitude positiva dos outros
acontecida no passado (pode ser uma piada divertida, uma peça de
vestuário, um pequeno ato de heroísmo do quotidiano) está a comunicar
ao outro que se lembra dele, e está a reafirmar a capacidade dele ou
dela de terem em si coisas positivas que merecem ser notadas. É
provável que a outra pessoa vá também lembrar-se de qualquer coisa
positiva a seu respeito que não tinha notado. Talvez até se surpreenda
com algo que marcou os outros sem saber. Este “lembro-me que tu” ou
“talvez não tenhas notado mas” deve ser sempre seguido de uma coisa
positiva e não negativa. As pessoas que insistem em evocar coisas
negativas, pequenos incidentes ou fragilidades nossas, querem apenas
reforçar as nossas inseguranças e são para evitar.
3. “Estou impressionado!”
Esta expressão foca-se naquilo que a pessoa faz, ou acabou de fazer, e
não no que fez. É uma expressão que visa reforçar a auto-estima do
outro e deve ser usada com pessoas que acabaram de chegar a um novo
local de trabalho, jovens estagiários, pessoas que parecem estar
deslocadas ou isoladas dentro de um grupo. Muitas vezes essas pessoas
estão aflitas, envergonhadas, inseguras. Ser a mão amiga que se lhe
estende, com um elogio, uma chamada de atenção positiva, vai fazer de
si um super-herói quotidiano, sem precisar de outros superpoderes que
não a gentileza.
4. “Eu acredito em ti”.
Todos nós temos inseguranças. E no ambiente altamente competitivo em
que vivemos ou nas relações instáveis que mantemos com os outros as
nossas inseguranças podem tornar-se numa dor crónica. A melhor forma
de se ajudar é acreditando genuinamente nos outros, na força que cada
um tem para superar os obstáculos. Por isso dizer “eu acredito em ti”
pode ser fundamental para uma criança ou um adolescente ultrapassarem
um bloqueio na sala de aula, na família ou com os amigos. Mas é
igualmente oportuno usá-lo com adultos. Quem tem cargos de chefia,
quem está a lidar com um colega de trabalho menos ágil, quem está
perante um amigo ou amiga que perdeu o emprego, ou o namorado, pode
reforçar a autoestima dos outros com estas quatro palavras. Este
acreditar expressa uma confiança nas potencialidades do outro, vê as
suas forças e destrezas até onde ele não consegue ver. Acreditar
verdadeiramente nos outros pode ser o primeiro passo para acreditar em
si mesmo.
5. “Olha só até onde já conseguiste chegar”.
Esta expressão vem na linha da anterior, mas visa obrigar a outra
pessoa a rever o seu percurso, ao mesmo tempo que demonstra que está
atento a ela. Que registou os seus esforços, os seus sucessos, as suas
conquistas. Dizer “olha só até onde já conseguiste chegar!” é, ao
mesmo tempo, uma celebração do sucesso alheio. E isto é muito difícil
(por isso a inveja é um pecado que mora ao lado) e, por isso, tantas
vezes somos lestos a apontar as falhas mas nunca apontamos o êxito dos
outros.
6. “Gostava de saber o que pensas sobre…”.
Já reparou que, por estes dias, ninguém ouve ninguém? As pessoas fazem
perguntas por mera cortesia social e antes que você esboce uma
resposta elas já estão a falar de outra coisa. Em geral já estão a
falar de si mesmas. Dizer a alguém “gostava de saber o que pensas
sobre…” ou “gostava de ouvir a tua opinião sobre…” é uma forma de
comunicar ao outro que o considera inteligente, idóneo para se
pronunciar sobre um assunto qualquer (seja uma decisão de vida, seja
um mexerico). O importante é que esta frase acolhe o outro na sua
vida, ou no grupo de trabalho, ou numa decisão familiar. Mas seja
sincero quanto ao seu desejo de ouvir o outro. Se o fizer por
obrigação social isso vai notar-se e vai apenas mostrar o quão
autocentrado você é.
7. “Diz-me mais”.
Vamos clarificar uma coisa: esta frase não é apenas para ser usada
para engatar miúdas (e miúdos). Querer saber mais sobre a outra pessoa
que se senta ao nosso lado na faculdade, no trabalho, ou à mesa do
jantar é o mínimo que podemos fazer para estabelecer ligações sólidas
e duradouras. Mais uma vez é uma forma de aceder à vida, ao
pensamento, aos sentimentos do outro. “Diz-me mais”, ou “diz-me mais
coisas sobre ti, sobre o que pensas de…”, é também um cumprimento, um
elogio, é uma forma de comunicar que o outro diz coisas inteligentes,
pertinentes, singulares. Isto é particularmente válido com as
crianças: ao mesmo tempo que as integra no grupo familiar ou escolar,
dá-se-lhes a tarefa de as obrigar a pensar, a usar recursos do seu
mundo interior que ainda estão a aprender a gerir.
8. “Bem-vindo”.
Há quem compre tapetes de porta com a expressão inglesa welcome, mas
que seja completamente incapaz de lidar com a expressão portuguesa:
“seja bem-vindo”. Para além das confusões com a ortografia da palavra
(tantas vezes escrita como substantivo, “benvindo”), há um certo medo
de parecermos pomposos ou teatrais. Por isso acabamos por cair no
vulgar e adolescente “olá, tudo bem?”. . Dizer a alguém que ele/ela é
“bem-vindo”, seja na nossa mesa de café, na nossa casa, na nossa
empresa ou na nossa vida é uma forma de dignificar a pessoa que
recebemos e de lhe mostrar que estamos felizes com a sua chegada.
9. “Posso ajudar?”
No país que ensina as crianças a rirem quando veem alguém cair, que
fez da humilhação alheia forma tradicional de celebração académica a
expressão “posso ajudar?” pode parecer um óvni na nossa vida social.
Mas ela existe e faz maravilhas. Todos nós já experimentámos a
sensação de, no meio de uma aflição, alguém nos oferecer ajuda sem
querer nada em troca. Seja porque deixámos cair as compras no chão do
supermercado, porque caímos na rua, porque simplesmente não sabemos o
que fazer numa determinada situação. “Posso ajudar?” é uma
demonstração de empatia com a insegurança momentânea de alguém e é, ao
mesmo tempo, uma confissão averbal de que também nós, por vezes, somos
desastrados, inseguros.
10. “Desculpa!”
Eis outra expressão da qual se abusa mas que raramente se usa: ou seja
diz-se “desculpa” por qualquer coisa. Há mesmo quem comece frases com
a palavra “desculpa” como se tivesse medo de existir, mas raramente a
usa como demonstração de um genuíno arrependimento. Porque à palavra
“desculpa” tem que corresponder uma consequência que é a nossa mudança
de atitude. Pedir desculpa é colocarmo-nos nas mãos de alguém, é saber
que seremos julgados mas que acreditamos poder ser absolvidos. Dizer
“desculpa!” é ainda uma forma de acreditar que o outro confia em nós,
na nossa capacidade de sermos melhores. Portanto, como dizem os
ingleses “say it just when you mean it!“.
11. “Não”.
Com três letrinhas apenas… pois é, esta palavra pode parecer destoar
do tom deste artigo, mas ela é fundamental para a nossa sobrevivência
social. O “Não” não deve ser pensado como sinónimo de humilhação dos
outros, mas como sinal de que “nós merecemos respeito”. Naturalmente
há quem saiba usar todas as expressões acima apenas para manipular os
outros, para conseguir alguma coisa do seu interesse. Por isso,
aqueles que têm a empatia, a gentileza, a humanidade de dizer todas
estas frases têm também que estar aptos a dizer “não” àqueles que não
as têm com os outros. Querer fazer o bem não pode deixar-nos à mercê
da maldade. Porque ela existe, não obstante as declarações bem
intencionadas de Rosseau.
12. “Obrigado/a”.
Antes de tudo, é importante esclarecer uma questão com a qual os
portugueses e as portuguesas continuam a não atinar: as mulheres dizem
obrigada (feminino) e os homens dizem obrigado (masculino). Posto
isto, a palavra “Obrigado/a” é uma das mais importantes de uma língua.
É o selo de uma troca na qual ambos os lados deram algo. Na verdade,
todas as expressões de que falámos anteriormente podiam resumir-se à
palavra “Obrigado”. Ela é uma bomba de sentimentos positivos, de
empatia, de assunção da nossa fragilidade, das nossas falhas e, ainda
assim, da aceitação e da generosidade do outro que nos recebe. Deve
usar-se sem parcimónia, desde o empregado do café que nos prepara o
galão, até alguém que segura a porta para passarmos. Agradecer a
gentileza reforça no outro a vontade de ser gentil. (Já agora,
obrigada por lerem e ajudarem a partilhar este artigo).
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